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Baseado no grande clássico da literatura “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa, o curta metragem “Reboco” se passa entre o cerrado mineiro e o sertão nordestino e se contextualiza em tempos atuais e amores mórbidos vivenciados dentro das subjetividades de cada ser humano. O filme tem incentivo do Programa Municipal de Incentivo a Cultura (PMIC), será lançado durante coquetel para convidados na Casa de Cultura Abdala Mamedi, em Araguari-MG, no dia 23 de julho, às 19h.

          Produzido, dirigido e com atuação de Juliana Iyafemí, o filme de ficção e gênero romance, se passa em um cenário de comunidade pequena do sertão  de Essu-RN, chamada Adelina, com cerca de 2 mil habitantes.  Neste local, perto de um vulcão inativo, onde a pele racha com o calor; no mar, nas margens do Rio Araguari e estacação ferroviária, se passa o encontro de quatro adultos que vivem “o amor” de formas similares e diferentes, em meio ao caos interno e externo de cada um.

          Segundo Juliana, parecem mais um casal multiplicado em quatro, como as nossas múltiplicas personalidades humanas. “Os quatro se encontram em momentos de distração e descanso da vida árdua no sertão. Três saíram da comunidade e foram buscar expansão de fora para dentro, um ficou e ainda busca expansão de dentro pra fora”, conta.

          O conflito desse curta está justamente em falar de amor em tempos mórbidos. Esse contexto atravessa essa trama e convida ainda a rebocarmos  nossas casas-corpos, com o que sobra de nós. O sagrado e profano andam juntos nesse enredo e criam expectativas de diminuir a dualidade entre bem e mal que a humanidade criou. Também desmistificar ideias que criamos como certezas e na verdade, não  passa de incertezas, que alguém deu fé.

          Reboco tem trilha sonora especial com artistas como Chico César, Tiquinha Rodrigues, Isabela Moraes, Flaira Ferro e Luiz Salgado.


O enredo

Ará, uma moça apaixonada, sagaz, atenta ao presente e futuro, destemida e se perde muitas vezes na sua coragem impetuosa. Acaba de descobrir que ama uma ilusão. Ou seja, se encontra desiludida.

Inaê, forte na sua brandura, amorosa, inteligente, paciente e com conflitos mais acentuados no que tange  onde ela se encontra no mundo. Se encontra em um momento que questiona se está amando sozinha e não é correspondida como gostaria. Frustrada.

 Biu, corajoso, amigo de um “pai de santo” curandeiro, trabalhador da terra, sonha viver muitas das suas personalidades escondidas, tem receio de abraçar, mas ama quando  alguém o abraça sem formalidades; um moço que tem medo do que as pessoas ao seu redor pensam dele e dos seus amores híbridos. Se  encontra atento ao coletivo e com medo da não aceitação.

Humberto, um atento-desatento, curioso, certo das suas escolhas e está totalmente bem e entregue ao acaso, vive o amor do presente, o amor com delírios reais. Seu medo talvez seja, sair do presente e ficar imaginando futuros.

Os casais de amigos, tem aproximadamente 33 anos de idade e sonham em construir um sertão melhor e nunca precisarem sair por muito tempo dali. Encontram em suas conversas baseadas por cerveja  e cigarros de fumo de rolo, a mesma leitura de um livro que conheceram na adolescência. E nos seus estudos particulares, a mesma inquietação é despertada através do livro “O Grande Sertão Veredas” do escritor João Guimarães Rosa.

A produtora e diretora Juliana Iyafemí explica que o sertão que os personagens vivem é diferente do que Guimarães descreveu e delirou, mas o que unem esses casais nessa obra, é o amor reprimido e intrigante do personagem principal “Riobaldo” por “Diadorim” e o         momento existencial de vida que se encontram. “Eles também se

encantam com os devaneios existencialistas, e as conversas entre  bem e mal, Diabo e Deus que o livro traz”, revela.

Os casais ficam atravessados pela obra e decidem, nesse momento de encontro raro dos quatro – em plena pandemia enfrentada em 2021- fazer um filme com suas percepções sobre o amor atravessado por Guimarães Rosa. Mas como bons críticos e “rebeldes” que são,  eles e elas fazem recortes específicos sobre a cultura que estão, as similaridades e distâncias que Guimarães criam. Afinal, são quatro nordestinos nascidos no Rio Grande do Norte. Eles trazem a regionalidade como um dispositivo de pensar o amor, abranger o conceito de amor. Percebem que não tem como falar de amor, se não falarem do sertão, porque o sertão é romântico e suas personalidades que passam por ele também.

 Ará, Biu, Humberto e Inaê se encontram despretensiosamente, e conseguem fazer um registro de suas histórias de vida, abalados por crises existências que vivem naquele momento. Ninguém sabe onde será transmitido; talvez fique guardado para os filhos, ou  apareça numa reunião da comunidade; ou ainda vá para outro país com Humberto. Eles se desapegam do resultado e vivem o processo intensamente, como se isso fosse a cura que estavam precisando enquanto seres humanos, que também contam histórias onde refletem as de outras pessoas.

Totalmente afetados pela condição social que cada um se encontra e o retorno a comunidade “Adelina”; o que mantem a esperança neles, em dias melhores é realmente o amor. O amor, nada romântico, o amor a terra, aos bichos, ao corpo, aos orixás, a história, as figuras míticas que aparecem, as pessoas e a si mesmo: talvez seja sobre a descoberta do amor.

Comboio Produções

É uma produtora cultural brasileira, afro-centrada, fundada em 2012 por Juliana Iyafemí. O foco da produtora é a produção de festivais e projetos culturais com linguagens nas artes integradas. Desde 2012 a comboio produziu mais de 25 festivais e encontros dentre eles a Mostra de Dança “Camadas” em 3 edições (2013,2014 e 2015) na cidade de Araguari-MG, o festival “Reexistência à 64” (2014). Compôs o IX festival latino americano de Teatro, em Uberlândia-MG (2015); produziu encontro de culturas populares na Bahia, Pernambuco e Rio grande do Norte(2018 à 2021); integrou a produção da CUFA(Central única das favelas- MG) de 2017 à 2021. Produziu e dirigiu na área audiovisual mais de 10 vídeo-danças, disponíveis nos canais de streaming (dentre eles “Entre-si” – 2020), mais de 3 videoclipes (Bate folha – 2020), mais de 2 documentários ( A culpa é do cabelo- 2012); (Destroços da colonização – 2020), mais de 3 curta metragem (entre eles Entenebrecida- 2020) e em 2020 teve a premiação do curta metragem “Entre si” no prêmio do Itaú cultura; da vídeo-dança “Dez nós” na arte do quilombo- FUNARTE e em 2022 premiação de melhor filme(Entenebrecida) no festcaicó. É uma produtora iniciante e que busca espaço de atuação e aprendizagens na área áudio visual, dentro da cena do cinema independente.  Tem como referência e parceria a produtora consolidada, Carnaval Filmes.

Teaser do filme:

https://drive.google.com/file/d/11SnCu87HZFr3Tvh-aq88ChVu_PUkOr6E/view?pli=1

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