Estudo mostra que falta de exposição ao ar livre e excesso de telas levaram a um aumento do grau da doença ocular em crianças de 6 a 8 anos. Oftalmologista dá dicas para amenizar danos
Aulas online, muitos jogos eletrônicos e poucas brincadeiras. Essa tem sido a realidade de muitas crianças desde o início da pandemia, há um ano. Segundo um levantamento da SuperAwesome, os jovens aumentaram em 50% o tempo gasto em frente às telas, uma mudança de hábito muito prejudicial para a saúde dos olhos.
“A visão de crianças entre 6 e 8 anos é muito sensível às mudanças ambientais, pois trata-se de um período importante para o desenvolvimento da miopia”, explica Rodrigo Fernandes, oftalmologista pediátrico de Uberlândia. “Nos últimos anos, a miopia já vem sido considerada um problema de saúde relevante no mundo, porque houve uma diminuição de atividades ao ar livre. Isso é fator de risco para o desenvolvimento da doença”, acrescenta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, até 2050, metade da população será míope.
Pandemia agrava progressão da miopia
Um estudo realizado com 123.535 crianças de 6 a 13 anos na China, e publicado recentemente no jornal científico JAMA Ophthalmology, mostrou que o confinamento imposto pela pandemia do Covid-19 está associado a uma mudança significativa no grau de miopia em crianças mais novas, entre 6 e 8 anos. Elas foram examinadas ao longo de 6 anos (2015 a 2020) e a prevalência de miopia aumentou até 3 vezes em 2020 em comparação com os cinco anos anteriores.
“Os dados comprovam o que temos visto no consultório e estão relacionados também ao esforço visual a que essas crianças têm sido expostas com o uso de dispositivos eletrônicos”, alerta Rodrigo Fernandes.
O oftalmologista ressalta que a miopia, que se caracteriza pela dificuldade de enxergar de longe, não pode ser revertida, mas é possível retardar a progressão. “O mais preocupante é que a miopia precoce aumenta a chance de alta miopia (mais de 6 graus) na idade adulta”.
Os principais sinais de miopia em crianças são: cerrar os olhos para enxergar algo distante e chegar muito perto da TV ou celular. Se um dos pais tem miopia, a atenção deve ser redobrada, pois a doença é hereditária.
Cuidados e dicas
“A dica mais óbvia é diminuir o uso de eletrônicos e aumentar a exposição ao ar livre, mas sabemos que isso é difícil acontecer neste momento”, avalia o médico. Algumas ações podem ajudar a descansar os olhos do esforço e evitar danos mais graves, como a miopia:
1- Deixe o ambiente o mais claro possível.
2- Diminua o brilho das telas dos dispositivos.
3- A cada 20 minutos (ou, no máximo, a cada 50 minutos), oriente a criança a desviar a visão das telas e olhe para o horizonte, o mais longe possível, por 20 segundos.
4- Dê preferência para telas maiores e mais distantes (TV em vez de celular, por exemplo).
5- Lembre a criança de piscar enquanto está em frente às telas.
6- Controle a ingestão de açúcar, porque a produção elevada de insulina favorece o crescimento do eixo óptico.
7- Corte os eletrônicos entre 1 e 2 horas antes de dormir.
Tempo de tela recomendado
Abaixo de 2 anos: não deveriam ficar expostas às telas sem necessidade, mesmo passivamente.
Entre 2 e 5 anos: no máximo, 1 hora por dia.
Entre 5 e 11 anos: 2 horas por dia.
Acima de 11 anos: 3 horas por dia.
Sobre Rodrigo Fernandes
Rodrigo Fernandes é médico oftalmologista na Olhar+ Clínica de Olhos, que fica no Uberlândia Medical Center. Ele fez residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Limeira – SP, é especialista em estrabismo e visão subnormal pela Universidade de Campinas (Unicamp). Além do Fellowship em Retina Clínica no Hospital Evangélico em Belo Horizonte – MG, atuou por 4 anos como preceptor em oftalmologia pediátrica, estrabismo e catarata no Hospital de Olhos de Aparecida de Goiânia – GO, e é reconhecido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia – CBO.