O tratamento da depressão refratária demanda abordagens terapêuticas mais complexas e personalizadas para auxiliar o paciente a lidar com o transtorno

Segundo o Instituto Ipsus, em uma pesquisa feita em parceria com a Janssen, o brasileiro ainda resiste em aceitar que está depressivo. Em média, ele leva quase 3 anos e meio para admitir que precisa de ajuda e, finalmente, buscar tratamento.

18% dos entrevistados não tinham conhecimento a ponto de entender que a depressão é uma doença, enquanto 13% não buscam ajuda por medo de serem julgados pelas outras pessoas.

O tratamento costuma ser feito com acompanhamento psiquiátrico e o uso de medicamentos, porém, 40% dos brasileiros diagnosticados lidam com a depressão refratária, uma forma persistente do transtorno. Nesse caso, após usar dois medicamentos diferentes em tempo e dose recomendados, o paciente segue sem uma resposta positiva.

O que é a depressão resistente

Humberto Corrêa, professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina Humberto Corrêa, foi um dos autores de uma pesquisa realizada na América Latina, a qual mostrou que 40% dos brasileiros enfrentam a depressão resistente.

Ele explica que os pacientes avaliados já estavam em tratamento e foram acompanhados por um ano, com avaliação do caso feita a cada três meses. O médico também alerta que “é preciso estar atento aos sintomas típicos de uma depressão e procurar ajuda o mais rapidamente possível. Sabemos que, quanto mais tempo a pessoa fica com os sintomas, mais difícil é o tratamento”.

A depressão resistente pode aparecer em casos de erro de prescrição, quando o paciente usa uma dose menor que a indicada ou troca de medicamento muito rapidamente. Ainda assim, o mais comum é que aconteça quando são testados dois medicamentos e não há resposta, mesmo seguindo as doses e o tempo indicado.

Corrêa ressalta que esse tempo não é fixo, pode variar, mas para se poder avaliar os efeitos da medicação no paciente é preciso que ele siga o tratamento à risca por, pelo menos, 6 meses.

Depressão resistente é associada a outras doenças

O psiquiatra André Brunoni, em entrevista ao Instituto de Psiquiatria, afirma que “é importante notar que a depressão refratária não é um sinal de fraqueza ou falta de força de vontade, mas, sim, uma indicação de que tratamentos regulares não estão funcionando e outras terapias mais intensivas podem ser necessárias”.

Além disso, Corrêa comenta que esse tipo de depressão está “associado a mais comorbidades clínicas, ou seja, as pessoas vão adoecer com outros problemas, como diabetes e hipertensão. Ainda, o prognóstico dessas outras doenças vai piorar e vai aumentar o risco de suicídio”.

Os sintomas incluem persistente sensação de tristeza, perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, mudanças de apetite e de sono, dificuldade em tomar decisões e pensamentos suicidas ou sobre a morte.

Quando surgem outras doenças associadas e o paciente vê que os medicamentos não estão tendo o efeito desejado, tendem a ficar mais desesperançosos quanto a melhora e há crescente interesse pela ideia de morte. Por isso, é preciso que o profissional que acompanha o tratamento esteja atento.

Tratamentos para a depressão refratária

Correia comenta que “em geral, esses pacientes usarão de dois a quatro medicamentos. Se não melhorarem com o tratamento medicamentoso, há outras opções, como eletroconvulsoterapia — uso seguro de corrente elétrica no cérebro para estimular atividades específicas —, estimulação magnética, entre outros”.

A eletroconvulsoterapia costuma ser utilizada em último caso, por ser mais invasiva e pelo custo do tratamento no Brasil. Primeiramente é indicada a combinação de medicamentos e a neuromodulação.

Desde 2020, após um estudo realizado nos Estados Unidos, a cetamina também foi incluída como alternativa ao tratamento desse tipo de depressão. De acordo com Brunoni, “o paciente é conectado ao equipamento de infusão intravenosa, que contém a cetamina, o medicamento é liberado lentamente no organismo durante 40 a 60 minutos, e o paciente permanece monitorado por 1 a 2 horas para observar efeitos colaterais”.

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