Organizações avançam em ações de inclusão, mas ainda carecem de métricas para acompanhar seus resultados.
A agenda de diversidade e inclusão tem avançado no ambiente corporativo, mas a avaliação de seus resultados ainda é limitada. É o que diz uma pesquisa da To.gather, realizada com mais de 300 empresas brasileiras, que mostra que 93,1% já realizam ações como treinamentos, palestras e comunicações sobre o assunto, mas apenas 35% mensuram o impacto dessas ações na retenção e no engajamento dos colaboradores
O estudo conclui que, embora exista um investimento na criação de ambientes mais inclusivos, poucas organizações conseguem avaliar se essas estratégias estão, de fato, promovendo o pertencimento e a equidade na rotina de trabalho.
Parte desse desafio está na ausência de indicadores claros. Sem métricas bem definidas, é difícil entender quais grupos estão sendo beneficiados, onde persistem barreiras e como as ações repercutem em termos de desempenho e permanência no quadro de colaboradores.
De acordo com o especialista em tecnologia para integridade corporativa e CEO do clickCompliance, Marcelo Erthal, muitas empresas ainda se dedicam ao planejamento de iniciativas, mas deixam esquecem de se questionar sobre o nível de participação das equipes.
“Você sabe quais funcionários participaram dos treinamentos? Quanto cada um completou? Quais setores estão mais ou menos envolvidos? Sem essas respostas, é difícil identificar o que está funcionando e o que precisa ser revisto”, destaca.
Por outro lado, Erthal explica que, quando a organização acompanha os resultados de um treinamento de compliance, é possível identificar onde estão as lacunas, quem precisa de mais suporte, quais áreas necessitam de ações direcionadas e quais lideranças podem atuar no fortalecimento da cultura dentro dos seus times.
São exemplos de fatores que podem ser analisados a presença dos colaboradores nas ações e módulos de capacitação, o nível de interação em discussões e atividades coletivas, as pontuações alcançadas em questionários ou exercícios avaliativos e as autoavaliações realizadas ao final de cada etapa.
Em treinamentos on-line, informações como número de acessos às plataformas internas, tempo dedicado aos conteúdos, frequência de utilização de materiais de apoio e participação em dinâmicas e webinars também ajudam a revelar padrões de engajamento.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) destaca que, uma forma de manter o engajamento dos colaboradores nas empresas é pedir e adotar suas sugestões, fazendo com que as equipes se sintam mais valorizadas.
Ainda pensando na abertura para o diálogo, também reforça a importância de garantir espaços seguros para que comportamentos inadequados sejam reportados, como a implementação de um canal de denúncias para empresas. Para Erthal, esse recurso reforça o compromisso institucional com o respeito e a integridade no ambiente de trabalho, permitindo detectar comportamentos divergentes aos valores da empresa e dar respostas ágeis ao problema
Uso da tecnologia aumenta o engajamento
A inserção da tecnologia nos treinamentos de diversidade e inclusão também pode ajudar a aumentar a retenção dos colaboradores. Segundo Marcelo Erthal, ainda existe uma percepção de que atividades formativas exigem tempo extra, concentração prolongada ou avaliações formais, o que pode gerar resistência inicial. Para ele, a tecnologia contribui justamente para tornar esse processo mais leve e conectado à rotina dos times.
Erthal explica que plataformas digitais permitem customizar conteúdos de acordo com o contexto de cada empresa, fazendo com que estejam mais próximos da realidade dos colaboradores. Recursos multimídia, vídeos curtos e módulos interativos ajudam a reduzir a sensação de que o treinamento é uma tarefa burocrática, tornando a aprendizagem mais dinâmica e, assim, favorecendo a retenção das informações.
Além disso, o treinamento em compliance pode ser beneficiado pela automação de lembretes e notificações. Algumas plataformas permitem programar avisos automáticos para colaboradores que ainda não concluíram os módulos, o que contribui para manter índices consistentes de participação ao longo do tempo.
Contudo, Erthal destaca que, independente de ser um treinamento online ou presencial, o importante é que ele tenha uma linguagem clara e acessível para a compreensão das informações que serão transmitidas.
“Ele precisa ser dinâmico e didático na abordagem dos assuntos. O objetivo é provocar uma imersão da equipe por meio do conteúdo apresentado”, acrescenta Erthal.
Empresas mais competitivas e produtivas
Organizações que investem em diversidade e inclusão observam impactos positivos no ambiente interno e nos resultados de negócio. Segundo o Sebrae, oferecer as mesmas oportunidades para todos garante equipes mais motivadas, engajadas e produtivas, que se sentem acolhidas e pertencentes ao ambiente organizacional.
Erthal lembra que, além de melhorar o clima e atrair talentos, a diversidade também impulsiona a competitividade. “Um estudo publicado pela Harvard Business Review mostra que empresas que incentivam diversidade e inclusão têm 45% mais chances de ampliar participação de mercado em um ano e 70% mais chances de conquistar novos mercados”, explica.
Outra análise destacada pelo Sebrae, realizada pela McKinsey & Company, indica que organizações com maior diversidade étnica e racial têm 35% mais probabilidade de superar a média de seus setores em desempenho financeiro, enquanto aquelas com diversidade de gênero apresentam 15% mais chances de resultados acima da média.
“Mas, além de contribuir para o posicionamento da marca, promover a diversidade é uma oportunidade de contribuir para uma transformação cultural que visa o acolhimento e o respeito às diferenças”, analisa Erthal.
