O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA para atacar alvos dentro da Rússia, em uma mudança significativa na política norte-americana em relação à guerra. Esta decisão foi confirmada por uma fonte à CBS News neste domingo (17/11), embora ainda não haja uma declaração oficial da Casa Branca ou do Pentágono.
Mudança na estratégia dos EUA e apoio a Zelensky
Essa autorização de Biden ocorre em um momento delicado, enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, enfrenta ataques russos intensos, particularmente contra a infraestrutura de energia da Ucrânia. O governo ucraniano havia solicitado essa permissão há meses, na tentativa de aumentar a capacidade de retaliar contra alvos estratégicos na Rússia. A autorização dos EUA também permite que aliados como Reino Unido e França forneçam os mísseis Storm Shadow à Ucrânia, aumentando as opções de ataque.
Zelensky, em declaração pública, não confirmou nem negou a permissão, mas indicou que sua estratégia está centrada na “capacidade de longo alcance” para o exército ucraniano. “Ataques não são realizados com palavras. Os mísseis falarão por si mesmos”, afirmou o presidente ucraniano em vídeo divulgado na mesma data.
O impacto para a Rússia e as ameaças de Putin
A Rússia, ainda sem uma reação oficial imediata, já havia se manifestado anteriormente sobre a possibilidade de a Ucrânia usar mísseis de longo alcance para atingir o território russo. O presidente Vladimir Putin alertou que essa ação seria considerada uma “participação direta” da Otan no conflito, o que, em sua visão, “mudaria substancialmente a essência da guerra”. Para Putin, o uso desses mísseis pelos ucranianos representaria uma escalada significativa no envolvimento dos países da Otan na guerra.
Em setembro, Putin declarou que tal medida significaria a participação ativa dos EUA e da Europa na luta contra a Rússia, o que poderia levar a uma intensificação do confronto no território russo. A autorização dada por Biden, portanto, aumenta a tensão no conflito, pois indica um passo mais direto da Otan no apoio militar à Ucrânia.
O que são os mísseis ATACMS e sua importância no conflito
Os mísseis ATACMS (Sistema de Mísseis Táticos do Exército, na sigla em inglês) são uma das armas mais poderosas enviadas pelos Estados Unidos à Ucrânia. Com alcance de até 300 km e uma alta velocidade que dificulta sua interceptação, os ATACMS permitem que as forças ucranianas ataquem mais profundamente nas áreas controladas pela Rússia, atingindo bases, depósitos de munição e centros logísticos russos. Esses mísseis já foram usados uma vez para atingir alvos na Crimeia, ocupada pelos russos.
Desde o início do conflito, os Estados Unidos têm sido o maior fornecedor de armas à Ucrânia, com mais de US$ 55,5 bilhões em armas e equipamentos fornecidos até meados de 2024. O impacto dos ATACMS pode ser significativo, especialmente se usados para atacar instalações estratégicas russas dentro do território russo, ampliando o alcance das operações militares ucranianas.
Contexto geopolítico e envolvimento de outros países
A decisão de Biden de liberar o uso de mísseis de longo alcance se dá em um momento de crescente envolvimento de outros países, como a Coreia do Norte, no conflito. Em outubro, a inteligência sul-coreana afirmou que tropas norte-coreanas haviam se envolvido em combates ao lado das forças russas, especialmente na região de Kursk, que fica próxima à fronteira com a Ucrânia. Além disso, Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, ratificou um tratado de defesa mútua com a Rússia, sinalizando um aprofundamento das relações entre Moscou e Pyongyang no cenário da guerra.
O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, comentou que a decisão de Biden é uma resposta à crescente ameaça representada pela entrada das tropas norte-coreanas na guerra, o que tornou a situação ainda mais crítica para os países da Otan.
Consequências e próximos passos
A autorização dos mísseis ATACMS representa um momento decisivo para a guerra na Ucrânia. Para Serhii Kuzan, presidente do centro de pesquisa ucraniano Security and Co-operation Centre, a medida “não mudará o curso da guerra”, mas pode equilibrar as forças ucranianas diante do avanço russo e norte-coreano. Kuzan enfatiza que a decisão chega em um momento crucial, pois a Rússia planeja uma ofensiva na região de Kursk, e o uso efetivo dos mísseis poderá ser fundamental para enfrentar essa nova ameaça.