O clássico personagem que há séculos povoa o imaginário popular ganha uma nova leitura nos palcos de São Paulo com a peça Drácula, Um Terror de Comédia. Dirigido pela dupla Heitor Garcia e Ricardo Grasson experientes e apaixonados pelo teatro, o espetáculo tem conquistado o público ao unir o suspense do terror com o ritmo certeiro do humor. Em entrevista, o diretor Ricardo Grasson compartilhou detalhes do processo criativo e dos bastidores da montagem
Inspirado por um mito moderno
“Eu sou apaixonado pela história do Drácula”, revelou logo no início. A inspiração principal veio da força mítica do personagem. Para ele, o Drácula é um símbolo presente no inconsciente coletivo mundial. “Todo mundo sabe quem é o Drácula, o que mata o Drácula, o que ele representa. É um mito relativamente jovem, mas universal. Trabalhar com isso é trabalhar com algo que já está dentro das pessoas.”
O diretor também contou que evitou assistir outras montagens antes de começar a trabalhar. “Isso bloqueia o processo criativo. Prefiro mergulhar na essência do mito, que mistura fatos reais com lendas, como a figura histórica do empalador, sua paixão violenta, sua revolta contra Deus, e todo esse contexto que gerou o Drácula literário.”
Equilibrando medo e gargalhadas
Sobre o desafio de equilibrar o terror com a comédia, o diretor foi direto: “O mais difícil foi encontrar a medida certa entre o susto e o riso. Não queríamos transformar o Drácula em uma caricatura, mas também precisávamos quebrar a tensão na medida exata para provocar o riso.”
Esse equilíbrio exigiu sensibilidade cênica e uma leitura precisa do público. A montagem brasileira acabou ganhando sofisticação, com elementos visuais e cômicos cuidadosamente pensados para manter a tensão, mas sempre surpreender com o inesperado.
Elenco como força criativa
“O elenco contribuiu demais”, declarou. A direção foi pensada para ser leve e aberta, permitindo que os cinco atores — todos experientes na comédia — pudessem trazer suas ideias. “São gênios do humor. Demos liberdade total, e eles trouxeram coisas incríveis para o espetáculo.”
Mesmo com tanta liberdade, a direção soube ajustar os detalhes. “Comédia é matemática. Às vezes uma frase precisa acabar com outra palavra, ou uma respiração diferente faz toda a diferença. Alinhamos isso juntos, e o espetáculo ganhou muito com a criatividade coletiva.”
O que o público pode esperar
Segundo o diretor, o público pode esperar uma grande comédia: “É uma grande diversão. É um texto muito inteligente. É uma história que já faz parte do inconsciente coletivo de quase todo mundo. O público vai se divertir através de uma história clássica.”
Ele explica que o humor da peça se inspira no besterol, na chanchada, no teatro de revista, misturando música, sátira e irreverência. “É um espetáculo visualmente muito bonito, com um time de grandes profissionais em cenário, figurino, luz, som e caracterização. É delicioso de ver e extremamente engraçado.”
Para ele, ir ao teatro também é uma forma de leveza. “A vida vale a pena. É gostoso ir ao teatro para refletir, mas também para rir. Como dizia Millôr, ‘fazer rir as pessoas honestas’. E a gente consegue fazer rir todo mundo. É unânime. As pessoas se divertem muito no Drácula.”
