Fabiana Karla e Tania Bondezan protagonizam “Radojka”, uma comédia friamente calculada, e com atuações verdadeiramente profundas e marcantes. O que o público pode esperar de “Radojka”? Se a resposta for que será simplesmente uma peça, cometerá um grave erro. De simples, a peça não tem nada, é tudo tão absurdo, positivamente falando, que mesmo criando espectativa, você saberá que não existe expectativa que alcance o que essas duas talentosas atrizes entregam no palco, elas conseguem superar com extrema facilidade.
O cenário é uma imersão a parte na história, durante todo o momento da peça, o público é teletransportado para dentro do palco, como se, em questão de minutos, deixasse a posição de plateia e fizesse parte da história. Isso é algo que poucos diretores conseguem alcançar. Odilon Wagner é cuidadosamente sensível em sua direção, sendo perceptível o quanto deixa as atrizes à vontade para entregarem a história da forma mais livre possível.
Ele consegue tirar o melhor dos talentos dessas atrizes com uma facilidade que outros diretores pouco exploram com naturalidade. Odilon conhece e respeita as atrizes antes das personagens, o que traz essa sensação de uma parceria tão real, tão conectada e tão certeira que impressiona a cada cena, cada olhar e interpretação.
Tania Bondezan dar vida a Lúcia, uma das cuidadoras da enigmática Radojka. Tânia, alimenta o público aos poucos sobre as camadas de sua personagem, sem pressa e sem deixar a essência da direção e roteiro perder o rumo. Ela sabe o quanto entregar, o quanto apresentar de sua personagem, e isso não é algo que só o roteiro que tem que entregar, pelo contrário… o roteiro aqui não é a parte tão influente em sua atuação, Tânia, constrói uma Lúcia, que, enquanto o roteiro apenas apresenta a personagem, ela não dar a vida, como trás um sentido, com maior riqueza de detalhes e sem medo algum de se divertir em cena, enquanto deixa ao público, poucos a poucos conhecer sua própria história, Tânia, domina Lúcia, mas Lúcia não domina Tânia, é um exemplo clássico de quando a atriz se torna maior que seu personagem, mas a mesma dar o devido espaço, e as pistas com cautela, sem pressa e sem a pretensão de agilizar o entendimento do público, pois ela consegue contar a história com o público, e não para o público, o que é um feito interessante, e que poucos atores conseguem atingir esse nível.
Fabiana Karla é um espetáculo à parte, explorando sua personagem (Glória) com um antídoto que a faz a atriz consagrada que ela é… qual o segredo? Não sei! Fabiana não tem como a definir, pois ela é maior que a própria definição do seu talento. Versátil, e tão potente em cena, que faz com que nós, que estamos assistindo, nem conseguimos piscar os olhos de tanta entrega e brilho exclusivo, que a consolida em sua carreira de sucesso. Fabiana, parte por outro caminho em sua encenação, que é sua marca registrada: a leveza… ela faz tudo com muita facilidade, e não! Não é a experiência de anos de atuação que é somente responsável por isso, mas é algo que é dela, que não se encontra em qualquer atriz. Fabiana, tem em suas mãos a receita para o humor, e em sua interpretação o método adequado de conexão com seus personagens, explorando com muito respeito os bordões de seus personagens. Atriz, conhecida como os famosos bordões “Isso pode” e “Isso não pode” como quando fez a personagem da nutricionista no Zorra Total, a Doutora Lorca. Tanto Fabiana, quanto Tânia formam uma parceria tão natural, que ficam quase que impossível imaginar outras em seus papéis, o jogo de cena, a intimidade e a perspectiva de ambas sobre suas personagens deixam tudo muito mais interessante.
A peça “Radojka” é um verdadeiro espetáculo de comédia, que combina humor, sátira e crítica social de forma magistral. Com uma direção sensível e uma atuação excepcional das protagonistas, a peça consegue manter o público engajado e emocionado desde o início até o final.
A parceria entre Fabiana Karla e Tania Bondezan é um dos pontos altos da peça. As duas atrizes têm uma química incrível no palco, e suas atuações são verdadeiramente memoráveis. Elas conseguem trazer profundidade e complexidade às suas personagens, tornando-as ainda mais relativas e humanas.
A peça “Radojka” é um exemplo de como o teatro pode ser uma ferramenta poderosa para criticar a sociedade e questionar os valores estabelecidos. Com sua mistura de humor e crítica social, a peça consegue fazer o público refletir sobre os temas abordados, e sair do teatro com uma nova perspectiva sobre a vida.